terça-feira, 27 de dezembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 4ª carta em Mossoró

Mossoró, 13 de dezembro de 2009.
 
Amigos (as):
PAX!
 
         A vida que S. Bento pensou e projetou para seus filhos nos Mosteiros está baseada em dois grandes pilares: a Oração e o Trabalho. E desde o começo ele pede para que o candidato seja iniciado na dureza da vida que vai encontrar lá dentro:
         “Apresentando-se alguém para a vida monástica, não se lhe conceda fácil ingresso, mas, como diz o Apóstolo: Provai os espíritos, se são de Deus (1 Jo 4,1). (...) Sejam-lhe dadas a conhecer, previamente, todas as coisas duras e ásperas pelas quais se vai a Deus” (Santa Regra 58, 1.2.8).
         De fato, a vida dos monges não é nada fácil, mas também não é nada insuportável. Pelo contrário, se vivida na simplicidade, na humildade e na alegria é caminho seguro para se elevar até Deus. Tanto que, chegando o fim do dia, não se vê ninguém estressado ou exausto pelas tarefas cotidianas. Porque a jornada num Mosteiro é pensada de maneira que tudo seja vivido de forma equilibrada, com alternâncias significativas entre refeição e jejum, trabalho e repouso, sono e vigília, oração e lazer...
Para S. Bento “a ociosidade é inimiga da alma; por isso, em certas horas, devem ocupar-se os irmãos com o trabalho manual e em outras horas com a leitura espiritual” (Santa Regra 48, 1). Não é à toa que, quando terminamos a última oração comunitária (Completas) e voltamos às nossas celas, durante o Grande Silêncio que só vai ser rompido após a oração de Laudes no outro dia, o corpo está razoavelmente cansado, mas o espírito está pleno e  tudo que mais queremos é uma agradável noite de repouso sereno e reparador.
         Outra coisa bastante interessante é a associação que é feita entre Oração e Trabalho. Não são duas coisas isoladas, estanques. O Trabalho é visto como uma continuação da Oração, naquela perspectiva da Primeira Carta de S. Paulo aos Tessalonicenses 5, 17: “Rezem sem cessar”.
         “Se, entretanto,alguém for tão negligente ou relaxado que não queira ou não possa meditar ou ler, determine-se-lhe um trabalho que possa fazer, para que não fique à toa” (Santa Regra 48, 23)
         No nosso futuro Mosteiro da Santíssima Trindade elaboramos um Projeto bastante interessante neste sentido. Como temos que nos preocupar com a nossa manutenção e a nossa independência financeira, iremos plantar um Bosque com árvores nativas, um Pomar com árvores frutíferas e uma horta (inclusive com plantas medicinais) para diminuirmos os custos com alimentação, já que teremos frutas, verduras e legumes.
         Também pensamos em criar alguns animais: Alevinos, Ovinos, Caprinos, Bovinos  para garantir ovos, carne,  leite e derivados.
         Como pretendemos também trabalhar com as Comunidades vizinhas, elaboramos, através da Associação Civil da Santíssima Trindade (que será a mantenedora do Mosteiro e, para isso terá que correr atrás de  verbas e patrocínios), alguns sub-projetos:
 
a)  Homens – “Grupo S. Bento”
Padaria
Apicultura
Fábrica de Polpa de Frutas
Marcenaria  
b)   Mulheres – “Grupo Sta. Escolástica”
Artesanato
Licoraria
Fábrica de Velas (comerciais, litúrgicas e artísticas)
Tear
c)    Jovens – “Grupo Ora et Labora”
         Fábrica de Material de Limpeza
         Fábrica de Incenso
         Serigrafia
         Gráfica
d)   Crianças – “Grupo S. Plácido e S. Mauro”
Farmacinha Comunitária
Guias Mirins
Venda de frutas e verduras
         Claro que tudo isso faz parte do grande projeto do Mosteiro como um todo. No início tudo será muito pequeno, de acordo com as circunstâncias e dificuldades que toda a Obra carrega quando está começando. Mas, pelo menos, temos claros os objetivos que queremos atingir.
Outro detalhe que me atrai na extraordinária figura de S. Bento com relação ao trabalho: Profundo conhecedor que é da natureza humana, ele também se preocupa com os mais fracos:
         “Aos irmãos enfermos ou delicados designe-se um trabalho ou ofício, de tal sorte que não fiquem ociosos nem sejam oprimidos ou afugentados pela violência do trabalho; a fraqueza desses deve ser levada em consideração pelo Abade” (Santa  Regra 48, 24 e 25)
A Trindade Santa, a Virgem Maria e nosso Pai S. Bento sejam a grande inspiração para a  nossa vida de Monges trabalhadores e orantes
Grande abraço do
 
Ir. Manoel

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

“Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança e salvação dos povos: vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus.”

Hoje clamamos na esperança que ele se faça Deus conosco. Condensamos tudo o que reconhecemos nesses últimos dias. Ele é Rei, Legislador, Esperança, Salvação; enfim, ele é a nossa vida. Preparemo-nos, pois, para receber a salvação que o Senhor nosso Deus, nos envia. E com essa esperança digamos: Salvai-nos, ó Senhor  nosso Deus!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

“Ó Rei das nações, desejado por todas, Pedra Angular que faz a unidade da Igreja: vinde salvar o homem que formastes do pó da terra.”

O fim do ano litúrgico é marcado pela Solenidade de Cristo Rei. Hoje reafirmamos mais uma vez que ele é o Rei de todas as nações e mais do que ser Rei, ele é desejado. Isso significa dizer que a presença dele é necessária. Pois, como viver sem ele, a Pedra Angular que une toda a Igreja? Sem a Pedra Angular, todo edifício rui; sem ele, a Igreja se desmorona também. Conscientes de tudo isso, pedimos que ele salve a nós que somos apenas pó.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

“Ó Sol nascente, esplendor da Luz Eterna e Sol de Justiça: vinde iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte.”

Reforçando a ideia de ontem, quando falávamos de sentar à sombra da morte, hoje unimo-nos a Zacarias que, no nascimento de João Batista, já cantava a libertação dos que se sentam à sombra da morte. O Cristo é o verdadeiro Sol que ilumina nossa vida, por isso ele veio extirpar as trevas do pecado e a sombra da morte em nossa vida. Não nos esqueçamos do que ele disse a Marta e Maria: “Quem crê em mim, ainda que morto viverá”.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

“Ó Chave da Casa de Davi, que abris e ninguém pode fechar, fechais e ninguém pode abrir: vinde libertar os que vivem nas trevas e nas sombras da morte.”

Jesus Cristo é a única chave. O  texto latino reforça ainda mais seu poder  o chamando de ‘cetro da casa de Israel’. O Senhor, portanto possui todo o poder de abrir e fechar e, conforme disse em suas parábolas, quando ele fechar as portas, mais ninguém entrará. Por isso, o que ele fecha ninguém abre e a recíproca é verdadeira. Sendo ele, a verdadeira chave, nosso dever é pedir que ele venha nos libertar das trevas do pecado para não nos sentarmos à sombra da morte.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

“Ó Raiz de Jessé, sinal erguido ante as nações, diante de quem se calam os poderosos e os povos suplicam: Vinde salvar-nos! Libertai-nos sem demora!”

Jessé foi o pai do rei Davi. Cristo veio pôr novamente no trono a linhagem de Jessé. Contudo, o Senhor existe desde a criação do mundo, sendo por isso mesmo a raiz de Jessé; pois antes que Jessé fosse criado, Jesus já sabia que nasceria em sua família. O trono de Cristo é a cruz, por isso ele é o sinal erguido perante todas as nações. Por ser “loucura para os gregos e escândalo para os judeus”, o Senhor é a esperança dos humildes e por isso os poderosos se calam. Calam por não compreender e enquanto isso, os humildes (o povão) clamam pela sua vinda que será a nossa libertação. Oxalá não demore a Parusia que nos libertará definitivamente de toda escravidão.

domingo, 18 de dezembro de 2011

“Ó Adonai, chefe da casa de Israel, que aparecestes a Moisés na sarça ardente e lhe destes no Sinai a vossa Lei: vinde libertar-nos com o poder do vosso braço.”

Adonai era a maneira que os judeus chamavam YHWH. Adonai pode ser traduzido por Senhor. A antífona de hoje proclama Cristo como o Senhor de todos nós, pois, após a vinda do Cristo, nós somos parte também da casa de Israel. A sarça que não se consumia é uma imagem da virgindade de Maria, por isso Moisés foi um dos primeiros a contemplar o mistério da redenção humana. No monte Sinai, o Senhor deu os Dez Mandamentos (Lei) para que o povo observasse. Na plenitude dos tempos, seu Filho dará uma nova lei: “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”. Reconhecendo em Cristo o cumprimento de toda a libertação do povo de Deus, resta-nos apenas pedir que Ele nos liberte com o poder do seu braço. O mesmo braço poderoso que nos levanta quando caímos, como diz o salmista. Iluminados por esta antífona, nunca desesperemos da salvação de Deus, pois ele sempre virá nos salvar.

sábado, 17 de dezembro de 2011

“Ó Sabedoria do Altíssimo, que tudo governais com firmeza e suavidade: vinde ensinar-nos o caminho da prudência.”

Hoje, estamos iniciando a Semana Santa do Natal e reconhecemos neste dia que o Messias é Sabedoria do Altíssimo e vem para governar, isto é, o Senhor vem para nos conduzir para o caminho da vida eterna. E,  como verdadeiro sábio,  é firme e suave. Firme para que não o queiramos conduzir, mas nos deixemos ser conduzidos; suave para encontrarmos nele repouso quando voltamos das fadigas do mundo. Reconhecendo-O como a Verdadeira Sabedoria pedimos que Ele nos ensine o caminho da prudência. O caminho da prudência é ter a nossa lâmpada cheia de óleo. A lâmpada é uma imagem da nossa vida e o óleo é o Espírito Santo. Portanto, pedimos ao Cristo que nos ensine a viver segundo o Amor de Deus. Que nesse início de preparação ao Natal, decidamos trilhar apenas o caminho de Deus.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 3ª carta em Mossoró

Mossoró, 28 de junho de 2009.
 
Amigos (as):
PAX!
 
         A experiência de fundar um Mosteiro Beneditino tem sido pra mim de uma riqueza indescritível! Tenho tentado passar pra vocês, através dessas Cartas aos domingos, um pouco de tudo que eu tenho vivido, mas tenho  consciência de que nem de longe as palavras  são capazes de traduzir tudo o que eu sinto.
         Algumas coisas a gente pode verbalizar. Outras não. É impossível, já que se situam na esfera espiritual. Partilho, então, com vocês aquilo que eu consigo expresssar.  Pouco a pouco Deus foi me mostrando que quem conduz o processo não sou eu, mas Ele. Quantas e quantas vezes eu pensei estar percorrendo o caminho certo e, lá pras tantas, Ele me aponta um caminho totalmente diferente. No início eu ficava atônito, perplexo, porque eu acreditava piamente que aquilo era exatamente o que eu deveria fazer. Eu estava tão seguro! Pra mim, às vezes, era tão claro que parecia impossível estar equivocado. E como eu me enganei!.. Por exemplo, eu estava convencido que o meu Noviciado seria na França: os Abades D. Jacques e D. Joel me haviam convidado e estava tudo encaminhado neste sentido. Pra mim não seria nenhum sacrifício retornar à França, que é um país que eu amo tanto. Não deu certo. Aí pensei em vários lugares: Olinda, Messejana, Garanhuns, Salvador, Rio de Janeiro... Não foi nenhum desses Mosteiros que Deus reservou para mim, mas um que nem estava na minha lista: Ponta Grossa, PR.
         Outra coisa que aprendi foi que todas as mudanças que houve foram sempre, indiscutivelmente, para melhor. Então fui me acostumando e, longe de me frustrar, elas começaram a ser encaradas como necessárias e, portanto, bem vindas. Por exemplo: eu saí de Mossoró com o propósito de, após terminar o Noviciado, voltar à nossa cidade e iniciar uma experiência diocesana. Mas, lá em Ponta Grossa o Abade achou melhor assumir a Fundação, que eu imaginava ser a melhor opção. Porém depois Deus interferiu mais uma vez apontando uma outra alternativa... certamente a melhor. A experiência que a Trindade quer de nós parece ir na direção de uma maior liberdade, o que é ao mesmo tempo muito bom e extremamente desafiador, uma vez que a responsabilidade é infinita e espantosamente maior.
         Outra coisa que eu aprendi muito foi com relação ao tempo. Antes eu era muito apressado, queria ver logo resultados, chegando até a definir data de Fundação, número dos monges fundadores, etc... A Trindade me fez ver que esse “departamento” não me dizia respeito. Como eu me enganei ao interpretar como um “sinal” de Deus a coincidência da Festa da Santíssima Trindade acontecer no mesmo dia em que eu completei 28 anos de Padre: 7 de junho. Pra mim era tão claro que o Mosteiro tinha que ser fundado nesta data! Ainda não era dessa vez.
         Mas talvez a experiência mais rica seja a da Cruz. Vocês sabem que, no início, tudo estava acontecendo sem nenhum problema, tudo fácil demais, o que me levou a desconfiar se o Projeto era mesmo de origem divina. Na dúvida começamos a pedir a Deus que nos mandasse Cruz como prova de que era mesmo vontade dEle. Aí Ele nos atendeu prodiga e generosamente. E nunca mais faltou sofrimento: injustiças, agressões, humilhações, calúnias, etc... Justamente vindas de quem menos esperávamos. Algumas pessoas não entendem a minha reação diante de tudo isso e querem que eu responda com a mesma “moeda”... Mas como fazer isso se é exatamente a Cruz que me dá a segurança de estar no caminho certo? Não conheço nenhuma história de Fundação que não tenha Cruz... Como descer ao nível de quem me agride se pra mim toda agressão é sinal de insegurança e fraqueza e eu me sinto cada dia mais seguro e mais forte?!. Como odiar quem me humilha se é exatamente nessas circunstâncias que eu me aproximo cada vez mais do Cristo sofredor e humilhado? Somente uma coisa me angustia: sei que a humildade é uma virtude e acho que Deus me deu esta graça (portanto nenhum mérito meu), mas a humilhação é um pecado e, portanto, tenho evitado ser causa de pecado para alguns irmãos me afastando temporariamente deles. Como estranhar isso tudo se, de uma certa forma, tudo isso era esperado e até desejado por nós?
         Antes também eu desejava iniciar de uma forma diferente: com um bom número de candidatos e já num edifício definitivo e bem grande. Mas lá em Ponta Grossa nosso santo ancião D. Geraldo me advertia: “Comece pequenininho, Padre. Comece pobre”. Hoje percebo que ele tinha razão. Ele que tinha tanta vontade de participar conosco desta Fundação!..  Ele que sonhou tanto conosco!.. Hoje me vejo na obrigação de fazer uma seleção rigorosa no processo de escolha, porque o que importa no momento é a qualidade e não a quantidade. E tenho recebido apelos dramáticos de alguns interessados pedindo que eu os aceite “por tudo quanto há de mais sagrado!” Mas é justamente em nome dessa “sacralidade” que eu não posso aceitar todo mundo. Só peço a Deus duas coisas: que eu não cometa nenhuma injustiça e que eu não comprometa o projeto.
         O resto, meus amigos, é pura alegria! Satisfação, prazer, contentamento... ao lado de muita paciência, humildade, reconhecimento da nossa insignificância e pequenez! Peço que continuem rezando por nós, para que sejamos fiéis e perseverantes até o fim.
         A Trindade Santa nos ilumine, a prudência da Virgem Maria nos inspire e a sabedoria humana de Nosso Pai S. Bento nos esimule.
         Grande abraço do
Ir. Manoel

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Completas e o repouso noturno

Como o próprio nome diz, esse ofício ‘completa’ o nosso dia. Esse ofício é rezado para encerrar o dia, em Casa rezamos por volta das 19h30min. Completas é também a oportunidade de ouvirmos a Regra de Nosso Pai São Bento e baseado nela analisarmos como vivemos esse dia no mosteiro. Aproveitamos também para interceder por toda a cidade de Mossoró, rogando a Deus que durante a noite ‘nenhum mal aconteça’. O Ofício encerra-se cantando uma antífona para Nossa Senhora; ao terminar a antífona começa o grande silêncio que só será quebrado com as Laudes no dia seguinte. Completamos assim a explicação de cada Ofício Divino rezado
durante o dia.

sábado, 10 de dezembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 2ª carta em Mossoró

Mossoró, 26 de Abril de 2009.
 
Amigos (as):
PAX!
 
         Aproveitei a minha permanência em Olinda e resolvi consultar um competente canonista, especializado em vida religiosa, para ouvir dele um parecer a respeito da minha situação e da Fundação do nosso Mosteiro. Conversamos, praticamente, durante uma tarde inteira. No final, depois de me tirar todas as dúvidas, lhe pedi que me enviasse  um arrazoado a partir do qual  eu pudesse me basear já que decidi, daqui pra frente, seguir apenas as minhas intuições, ao invés de escutar todo mundo, como eu costumava fazer. Talvez, se eu tivesse feito isso há mais tempo, a situação fosse outra hoje. Mas, como diz o poeta Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena!”
         Para quem não o conhece,  Frei Francisco Fernando da Silva, ofm, é formado em Filosofia e Teologia, com pós graduação em Letras e Mestrado em Direito Canônico pelo Instituto de Direito Canônico do Rio de Janeiro, sendo este filiado à Universidade Gregoriana de Roma. Trabalha há vinte anos no Tribunal Eclesiástico do Regional Nordeste II da CNBB, dez dos quais como seu Presidente. Portanto, não é qualquer um que fala:
         “Constatada a impossibilidade de fundar um Mosteiro Beneditino na Diocese de Mossoró por via jurídico-canônica, porque não se pôde erigir um Mosteiro diocesano, nem se pôde criar uma filial de um Mosteiro já existente, não significa que ficaram esgotadas todas as possibilidades de fundação ou criação de um Mosteiro.
         Existe na Igreja um direito dos fiéis de fundar e dirigir livremente associações para os fins de caridade e piedade, e para favorecer a vocação cristã no mundo e conseguir estes fins em conjunto (c. 215).
         Estas associações, diferentes dos institutos de vida consagrada, formadas por leigos e clérigos, se empenham para fomentar uma vida mais perfeita, promover o culto público e a doutrina cristã e o exercício de obras de piedade e caridade (c. 298). Surgem de um acordo privado entre os fiéis, e por se originarem da iniciativa privada, mesmo louvadas e recomendadas pela autoridade eclesiástica, são chamadas associações privadas de fiéis (c. 299).
         A recepção dos membros será feita de acordo com o direito e os estatutos de cada associação (c. 307 parágrafo 1). Como essas associações se aproximam da vida consagrada e tendem à perfeição cristã e participam da espiritualidade de um Instituto Religioso (c. 303), podem fazer sua incorporação também através de uma profissão privada de votos, promessas, compromissos, juramentos ou outros vínculos sagrados ( c. 207 – parágrafo 2).
         A profissão é privada porque não é recebida pela Autoridade Competente da Igreja, isto é, trata-se de uma promessa ou compromisso feitos diretamente a Deus, sem interferência do Superior que representa a Igreja (c. 1192 – parágrafo 1). Como o voto público é próprio dos Institutos Religiosos (c. 607 – parágrafo 2), a profissão privada é feita nas Sociedades de vida apostólica (c. 831 – parágrafo 2) e pode-se fazer também naquelas associações que tendem à perfeição cristã.
         Atualmente estão surgindo muitas comunidades novas ou novos movimentos eclesiais que, sempre mais, abraçam a vida comunitária, hábito religioso, carisma próprio ou de algum instituto já existente, apostolado próprio de consagrados como evangelização e missão, mística, espiritualidade e contemplação, saúde e educação, etc.
         Por tudo isso concluímos que o Revmo. Pe. Guimarães poderá juntar dois ou três amigos que se encontram com o mesmo ideal de fazer uma experiência contemplativa no carisma de S. Bento e passar a viver em comunidade em sua Diocese de Mossoró.
         À medida que a comunidade for crescendo, os membros vão fazendo a sua profissão privada de obediência, estabilidade e conversão de costumes e vão formando os estatutos e amadurecendo a experiência, sem aprovação ou reprovação de ninguém.
         Com o tempo, certamente vai aumentar o número e surgirá naturalmente a necessidade e a oportunidade da aprovação da autoridade competente eclesiástica (c. 299 – parágrafo 3).
         Assim surgiu a grande maioria dos institutos de vida consagrada e sociedade de vida apostólica e dos demais movimentos eclesiais”. 
         Como estão vendo, as portas estão abertas e o nosso Mosteiro vai sair. “Parto” difícil, doloroso, mas a “criança” vai nascer, finalmente, e com muita saúde. Estou fazendo a seleção para a futura Comunidade Monástica. Não estou preocupado com quantidade (tanto que eu já dispensei vários), mas com qualidade.  Tenho pedido à Santíssima Trindade que não me mande, pelo menos agora, gente complicada que possa atrapalhar e até comprometer o Projeto. Também já não estou mais preocupado com o tempo. Não tenho mais pressa.
         Que a Trindade Santa nos ajude, a Virgem Maria nos proteja e nosso Pai S. Bento interceda por nós.
         Grande abraço do
Ir. Manoel

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Vésperas e o sol poente

Quando o sol declina, segundo o costume judaico o dia se finda iniciando o seguinte. O Ofício de Vésperas baseia-se nesse costume. Vésperas é o outro pólo de nosso dia; se em Laudes pedimos que o dia fosse consagrada a Deus, em Vésperas agradecemos o dia que passamos com Ele. Justamente por isso todo cristão deveria ao terminar o seu dia, parar e agradecer a Deus. Em nossa Casa, cantamos Vésperas às 17h30min. É interessante ressaltar que devido ao costume judaico e a primazia do Domingo em nossa vida, sábado é o único dia da semana que não tem Ofício de Vésperas próprio, sempre rezamos as Primeiras Vésperas do Domingo e no Dia do Senhor rezamos as Segundas Vésperas do Domingo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 1ª carta em Mossoró

Mossoró, 12 de Abril de 2009.
 
Amigos (as):
PAX!
 
         Que a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo faça surgir do mais profundo do nosso ser aquele Homem Novo comprometido verdadeiramente com o Reino. E que a Justiça seja, de fato, o fruto maduro da Paz.
         Várias pessoas têm me perguntado como será o nosso Mosteiro e porque ele não começou ainda. Partilho com vocês as idéias nascidas dessa minha experiência de dois anos e os encaminhamentos práticos que foram dados a partir do que foi discutido com o Bispo e com o Conselho Presbiteral:
1.   A nossa Diocese chegou à conclusão  que não tinha como assumir este Projeto de Fundação. Mas me liberou para que eu possa começar a experiência, depois de eu ter cumprido a exigência do Direito Canônico que é um ano de Noviciado, que eu fiz na Abadia da Ressurreição, em Ponta Grossa, PR.
2.   Agora estou organizando a futura Comunidade, me articulando com alguns irmãos que se mostram interessados no Projeto. Graças a Deus eu nunca estive só e sempre teve gente interessada no Projeto. Tanto que eu tive que fazer uma seleção, porque prefiro qualidade à quantidade. E é  porque não foi feita nenhuma campanha vocacional. Já fui muito ansioso e apressado. Não sou mais. Aprendi que o tempo de Deus não é o nosso. O nosso é o Kronos (do relógio); o de Deus é o Kairós (da graça). A espera silenciosa e calma produz frutos mais saborosos.
3.   O Projeto do nosso futuro Mosteiro em suas várias dimensões (Arquitetura, Formação, Liturgia e Manutenção)  está pronto, mas vamos começar devagarinho. Nos doaram um terreno de 10 hectares a 12 km do perímetro urbano, na estrada velha de Upanema, mas só queremos utilizá-lo daqui a alguns anos quando construiremos o prédio definitivo. Trata-se de um complexo arquitetônico composto de três partes: a hospedaria, o conjunto de Oficinas e fabriquetas e o Mosteiro propriamente dito. Por enquanto optamos por uma estrutura menor para começar a experiência e para isso alugamos uma Chácara na BR 304, saída pra Natal, antes do Posto da Polícia Rodoviária Federal. E lá já começamos a experiência de  acordo com as nossas limitações.
4.   Não estaremos ligados à Diocese,  a nenhum outro Mosteiro, nem a nenhuma Ordem ou Congregação. Mesmo assim é legítima a nossa iniciativa porque S. Bento é patrimônio de toda a Igreja Universal e por isso podemos fundar um Mosteiro com todos os valores que  caracterizam os Mosteiros Beneditinos: o silêncio, a Oração pessoal e comunitária (sobretudo o Ofício Divino), uma Liturgia bem celebrada, a Lectio Divina, uma intensa vida comunitária, o estudo,  o hábito (diferenciado por causa do clima e para não confundir com o dos outros Mosteiros), a clausura, o trabalho, o nome novo e uma acolhida alegre e fraterna aos hóspedes que nos procurarem.
5.   Nosso estilo de vida é conhecido dentro da Igreja como vida contemplativa e o modelo mais parecido que temos aqui em Mossoró é o das Clarissas. Estaremos circunscritos aos nossos muros com a única finalidade de rezar e trabalhar, como queria Nosso Pai S. Bento. Não representaremos, portanto, nenhuma ameaça para a Pastoral nem para nenhum Movimento eclesial. Estaremos à disposição de todos com nosso serviço específico ao povo de Deus próprio da vida monástica. Por isso não deveremos ser procurados para atividades pertinentes à estrutura Paroquial como Casamentos e Batizados, a não ser em casos muito especiais e com a devida autorização do Pároco ou Vigário. Da minha parte preferiria que não houvesse nenhum caso. Também não gostaríamos de ser vistos como “quebra-galhos” dos Padres nas suas ausências porque a presença dos Monges no coro para o louvor divino é imprescindível. E isso acontece sete vezes durante o dia. Além do mais aquilo que chamamos de anacorese (afastamento do mundo exterior) é essencial na nossa vida. Não para negá-lo ou rejeitá-lo, mas para assumí-lo com mais responsabilidade e em profundidade.
     O desafio está lançado. O pedido que fizemos a Deus logo no início do nosso Projeto, que Ele nos mandasse cruz foi plenamente atendido. Os sofrimentos, incompreensões e humilhações são contínuos e abundantes. Graças a Deus. Sinal de que é obra divina, pois foi o próprio Jesus que disse: “Quem quiser me seguir renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga”.
     Peço orações a todos para que o nosso futuro Mosteiro seja fonte de muitas bênçãos e graças para nosso povo.
     Que a Trindade Santa nos ilumine, a Virgem Santa nos proteja e o Nosso Pai S. Bento interceda continuamente por todos nós.
     Grande abraço do
 
Ir. Manoel

domingo, 4 de dezembro de 2011

Bênção sobre a cidade de Mossoró

Trindade Santa, contemplando vossa indivísivel Unidade e imensurável Amor, nós vos pedimos cobrir de bênçãos nossa querida cidade de Mossoró. Fazei descer sobre cada lar a saúde duradoura, a harmonia entre as pessoas e a alegria sincera, frutos do amor que é apenas um pálido reflexo do verdadeiro Amor que circula entre as Vossas Santíssimas Pessoas.

Velai o sono dos que dormem. Protegei os que caminham pelas ruas. Atenuai a dor dos que sofrem. Aumentai a esperança dos angustiados. Sarai os enfermos nos leitos dos hospitais ou de suas casas. Elevai o ânimo dos abatidos. Dai força aos fracos e humildade aos fortes.
Que nesta noite nenhum mal aconteça na nossa cidade e que todos durmam em paz. Que a luz vença as trevas. E que amanhã o Sol nasça radiante e vivificador e que todos enfrentem o novo dia cheios de confiança e temor a Deus.
Vos pedimos pela intercessão da Nossa Mãe, a sempre Virgem Maria, e de Nosso Pai São Bento. Amém!

sábado, 3 de dezembro de 2011

Noa: o Cristo que se doa

Às 14h30min, rezamos o Ofício de Noa. O nome deriva da nona hora do dia (aproximadamente 15h). Essa foi a hora em que o Cristo morreu por nós na cruz. Por isso, pedimos nesse Ofício “na tarde desta vida”, que o Senhor “conceda aos redimidos teu a páscoa merecida”. Associando assim, a tarde que declina com a nossa vida que caminha rumo à morte pedimos que Deus nos conceda a redenção que merecemos pela Paixão d’Ele.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 2ª carta

Ponta Grossa, 20 de julho de 2008.
 
Amigos:
PAX!
 
         No dia 28 de abril de 2006, Abades e Priores conventuais dos Mosteiros e Abadias vinculados à Congregação Beneditina do Brasil, preocupados com certos abusos que estavam acontecendo em algumas Fundações Diocesanas de Mosteiros (sei de dois casos que provocaram esta reação da referida Congregação), enviaram um Comunicado aos Bispos do Brasil reunidos em Itaici, na 44ª. Assembléia da CNBB, alertando sobre a gravidade da situação em tais casos.
         Ao chegar D. Mariano me passou uma cópia e, apesar de não me sentir atingido por este documento, já que não havia cometido nenhum erro, abuso ou agido de má fé, nem feito nada em nome daquela Congregação, pedi ao Pe. João Medeiros, que é um bom teólogo e conhecedor do Código de Direito Canônico, um parecer sobre o Comunicado dos Abades e Priores e uma orientação segura para nós, no sentido de evitar que fôssemos acusados de algum delito já que, naquela época, nós ainda estávamos pensando numa Fundação ligada à Diocese. Como sempre, Pe. João Medeiros foi brilhante. Gostaria de partilhar trechos do seu parecer com vocês, já que o espaço é pequeno para transcrevê-lo na íntegra:
         1.    Histórico
         É bem longa a história da vida beneditina na Igreja. Surgiram daí diversos ramos beneditinos, possuindo denominações diferentes e espalhados pelos cinco continentes. A maioria organizou-se em Congregações, reunindo Mosteiros de um ou vários países. Algumas Congregações se uniram e deram origem à Confederação Beneditina, sediada em Roma, no Colégio Santo Anselmo, tendo como Presidente o Abade Nolker Wolf. São estas as 20 Congregações Beneditinas ligadas à citada Confederação:
1. Congregação Americana-Cassinense (1855)
2. Congregação Americana-Suíça (1881)
3. Congregação Austríaca (1625)
4. Congregação Brasileira (1827)
5. Congregação Camaldulense (1980)
6. Congregação Cassinense (1408)
7. Congregação da Anunciação (1920)
8. Congregação da Bavária (1684)
9. Congregação da Vallumbrosa (1036)
10. Congregação de Beuron (1873)
11. Congregação de Solesmes (1837)
12. Congregação de Subiaco (1872)
13. Congregação do Cone-Sul  (1976)
14. Congregação Eslava (1945)
15. Congregação Húngara (1514)
16. Congregação Inglesa ( 1336)
17. Congregação Olivetana (1319)
18. Congregação Otilliense (1884)
19. Congregação Silvestrina (1231)
20. Congregação Suíça (1602)
         A Confederação não esgota a família beneditina. Há outros Mosteiros e casas religiosas ligadas à espiritualidade de S. Bento. Existem os monges beneditinos armênios, orientais, ortodoxos, anglicanos, os Amigos de S. Bento, Comunidade de Leigos Beneditinos e outras instituições não vinculados à Confederação Beneditina.
         Convém lembrar que há Abadias e Mosteiros de inspiração beneditina (vivendo segundo a Regra de S. Bento) que, ao longo da história, foram se separando do tronco tradicional e constituíram novas famílias. Hoje são aceitos e reconhecidos em toda a Igreja. Dentre eles estão os monges cartuxos, cistercienses e trapistas.
         Os beneditinos encontram-se no Brasil desde 1596 e continuam presentes através da Congregação Beneditina Brasileira, atualmente composta de oito Fundações: Abadias de Salvador, Rio de Janeiro, Olinda, São Paulo, Ponta Grossa, Mosteiros de Garanhuns, Brasília e Pouso Alegre. Há ainda Mosteiros ligados a seis outras Congregações vinculadas à Confederação Beneditina.
         Daí, constata-se que há muitos ramos beneditinos espalhados no mundo inteiro e destes, alguns estão congregados numa Confederação. No entanto, pode-se inferir que a Confederação não esgota a variedade da família beneditina. Conclui-se também que a mesma não exerce jurisdição canônica sobre todos os religiosos que vivem segundo a Regra de S. Bento, mas sobre aqueles que estão confederados. Em outros termos, apesar de ter autonomia e jurisdição sobre muitos Mosteiros e casas, a Confederação não se arroga a exclusividade do carisma beneditino. Se assim o fosse, instituições seculares estariam impedidas de se declararem beneditinas ou inspiradas na espiritualidade de S. Bento, como é o caso dos cistercienses, trapistas,  cartuxos etc.
     2.     Do Comunicado da Congregação Brasileira
                   A Congregação Beneditina Brasileira expressa-se oficialmente em seu nome, como um dos membros ligados à Confederação, não em nome desta e de  todos os beneditinos.
    É pertinente o zelo dos signatários desse Comunicado, expressando-se diante de abusos que confundem o Povo de Deus com terminologia e indumentária que dão margem à ambigüidade. (...) Mas ele tem limitações, previstas na legislação canônica e no foro civil.
         3.      Da Competência Diocesana
         Partindo do pressuposto histórico, jurídico e canônico de que a espiritualidade beneditina não é exclusividade de nenhuma instituição, pode a autoridade diocesana, observadas as prescrições do Código de Direito Canônico (respeitado o disposto nos cânones 312 parágrafo 1º., Inciso 3º., 579 e 594), fundar conventos, mosteiros etc. dentro de seu Bispado e colocá-los debaixo de uma Regra, no caso a de S. Bento, que é patrimônio de toda a Igreja.
         (...) Se fiéis vivem em um Mosteiro ou casa religiosa a espiritualidade de determinado santo da Igreja Católica e se foram legitimamente constituídos e são supervisionados pela autoridade diocesana, não incorrem em nenhum delito canônico.
         4.    Da extensão do Comunicado
                   (...) O Documento firmado pelos Abades e Priores deve ser interpretado como balizamento. Adverte sobre erros, abusos e má fé e aponta critérios para se identificar quem é ou não é monge beneditino pertencente à Congregação Beneditina Brasileira. Assim, para que se saiba se esta ou aquela casa é ou não beneditina dessa Congregação, deverá exibir a documentação prevista nos Direitos Canônico e Civil. No entanto, na verdadeira acepção canônica e jurídica, falece competência àquela Congregação para dizer se outras casas têm inspiração no carisma de S. Bento.  Cabe aos signatários declarar se há vinculação de religiosos a essa Congregação”.
                  Que a Santíssima Trindade, a Virgem Maria e o nosso Pai S. Bento acompanhem sempre, com carinho e zelo, todos os nossos passos e os de vocês também.
         Grande  e afetuoso abraço:
Ir. Manoel, OSB

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Sexta e a vida breve

Ao meio-dia, reunimo-nos para o Ofício de Sexta. Sexta também pode ser chamada de Hora Média ou Meridiana porque marca a divisão do dia em duas partes (manhã e tarde). Relembramos nesse momento a hora em que o Cristo foi levantado da terra e abrindo os braços traçou o sinal de nossa redenção. Por isso, geralmente os salmos rezados retratam a brevidade da vida, lembrando-nos assim que a qualquer momento deveremos prestar contas a Deus a respeito do que fizemos em nossa peregrinação nessa terra.

domingo, 27 de novembro de 2011

Apoftgemas

De um certo Abade Apolo da Cétia, diziam que fora pastor nos campos. Certa vez no campo viu uma mulher grávida, e, movido pelo demônio, disse: “Quero ver como o embrião está colocado no ventre desta mulher”. E, tendo-o aberto, viu o embrião. Logo, porém, repreendeu-o o seu coração; compungido, foi para a Cétia, onde confessou aos Pais o que fizera. Ouviu-os então a salmodiar: “Os dias de nossos anos ordinariamente perfazem setenta anos; nos poderosos, porém, oitenta: e o que os ultrapassa é trabalho e fadiga”. Disse, pois: “Tenho quarenta anos de idade, e ainda não fiz uma oração; se, porém, viver outros quarenta anos, não cessarei de orar a Deus para que me perdoe os meus pecados”. Nem trabalho manual fazia ele, mas rezava sempre nestes termos: “Pequei como homem que sou, sê tu propício como Deus”. Esta prece se lhe tornou um exercício constante, de dia e de noite. Um irmão, que morava com ele, ouviu-o dizer: “Atormentei-te, ó Senhor, perdoa-me, para que descanse um pouco”. Por fim conseguiu a plena segurança de que Deus perdoara todos os seus pecados, mesmo o pecado cometido contra a mulher; quanto à criança, porém, não obteve certeza nenhuma. Disse-lhe, então, um dos anciãos: “Deus te perdoou também o pecado cometido com a criança; Ele, porém, deixa-te na tribulação, porque convém à tua alma”. (Apolo, 2)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 1ª carta

Prosseguindo com a história da fundação de nossa Casa, publicaremos algumas Cartas escritas por nosso Superior. Afinal, ninguém melhor do que ele para contar como recebemos a Tradição Monástica

Ponta Grossa, 20 de abril de 2008
 
Caros Amigos:
PAX!
 
         Desde que decidimos fundar um Mosteiro Beneditino em Mossoró sabíamos que seria necessário receber a Tradição Monástica de um outro Mosteiro já constituído. “Ninguém se faz monge sozinho. Alguém o gera”, diz o Abade D. André. Neste campo não existe autodidatismo. Se não se recebe, não se pode transmitir. Por isso que, desde 2001, vínhamos sondando, com este objetivo, através de contatos telefônicos ou por e-mails, os diversos Mosteiros existentes no Brasil. No entanto, sem maiores compromissos, uma vez que outros passos deveriam ser dados no âmbito da Diocese, com o apoio do Bispo.
         Em janeiro de 2006 conhecemos em Natal dois Abades franceses: D. Jacques (de Belloc) e D. Joel (de Tournay) que me convidaram para fazer o meu Noviciado numa dessas Abadias e depois, na minha volta, ajudar a articular as demais Fundações Diocesanas que existem no Nordeste, no sentido de uma futura agregação à Congregação Beneditina Sublacense. Pensei em aceitar o convite mas, Pe. Sátiro, que desde o início foi um grande incentivador deste Projeto, me convenceu a permanecer no Brasil. Hoje reconheço que ele estava coberto de razão.
         Com a minha decisão de ficar por aqui mesmo os Abades franceses me sugeriram, então, que tentasse o Mosteiro de Olinda. Foi o que eu fiz. Já conhecia o Abade D. Bernardo que me comunicou que, infelizmente, não poderia tomar nenhuma decisão já que estava renunciando ao cargo por problemas de saúde. Esperei, então, a Bênção Abacial do seu substituto, D. Felipe, que me disse, ao ser contatado, que iria transferir o noviciado de Olinda para Salvador. Falei, então, com D. Beda, do Mosteiro de Messejana, que também me comunicou que estava enviando seus noviços para Salvador. Foi quando entrei em contato com D. José Gabriel, Prior do Mosteiro de Garanhuns. Ele também estava renunciando ao Priorado e quando chegou o novo Prior, D. Gregório, falei com ele que me disse que estava com problemas de formadores e não poderia nos receber.
         Aí entrei em contato com o Arquiabade Presidente da Congregação Beneditina do Brasil, D. Emanuel d’Able do Amaral, da Arquiabadia de Salvador, que me sugeriu a Abadia da Ressurreição, em Ponta Grossa, PR. Entramos em contato com o Abade D. André Martins que, após consultar o Capítulo, me telefonou dizendo que eles estavam com as portas e os corações abertos para nos receber e que já poderíamos ir na Quaresma. Disse mais: que eles estavam realmente interessados em investir na Fundação de um Mosteiro no Nordeste, já que estavam recebendo muitas vocações da nossa Região e a lista de espera estava crescendo.
         Logo D. Mariano escreveu uma carta para ele me apresentando, dizendo que estava de acordo com a Fundação do Mosteiro da Santíssima Trindade em Mossoró e autorizando o Abade a fazer a nossa vestição.
         Além de mim também iriam o Ir. André de Soveral e o Ir. Lucas. O primeiro viajou antes para S. Paulo, onde ficou alguns dias na casa de uns parentes e o segundo viajou de Recife. O meu vôo saiu de Fortaleza, fez conexão em S. Paulo e no Aeroporto de Cumbica nos encontramos e seguimos os três juntos para Curitiba.  No Aeroporto da capital paranaense estavam nos esperando o próprio Abade D. André Martins e o Prior D. Rafael. De lá seguimos para Ponta Grossa, onde chegamos por volta das 09:30h do dia 14 de abril de 2007.
         Foi uma chegada festiva na Abadia da Ressurreição. Os sinos anunciavam a nossa chegada e toda a Comunidade veio ao nosso encontro para nos abraçar, desejar boas vindas,  sob o olhar sorridente e feliz do nosso Abade. De fato, S. Bento no número 53 da sua Regra diz que “todos os hóspedes que chegarem ao Mosteiro, sejam recebidos como o Cristo, pois Ele próprio irá dizer: ‘Fui hóspede e me recebestes’ (Mt. 25,35)”. Pois fomos acolhidos aqui no melhor estilo beneditino.
         Leonardo Boff escreveu 3 livros apresentando as virtudes básicas para um outro mundo possível, na perspectiva de uma ética mundial  que favoreça a vida do ser humano na terra, nossa casa comum. São elas: a hospitalidade, a convivência, o respeito, a tolerância e a comensalidade. No volume 1 ele fala da Hospitalidade como Direito e Dever de todos. No Capítulo III  ele narra o mito da Hospitalidade que transcrevo:
         “Júpiter, o deus criador e seu filho Hermes, quiseram saber como andava o espírito de hospitalidade entre os humanos. Travestiram-se de pobres e começaram a peregrinar pelo mundo afora.. Foram maltratados por uns, expulsos por outros.
         Depois de muito peregrinar tiveram que cruzar por uma terra cujos habitantes eram conhecidos por sua rudeza.. As divindades sequer pensavam em pedir hospitalidade. Mas à noitinha passaram por uma choupana onde morava um casal de velhinhos, Báucis e Filêmon. Qual não foi a surpresa, quando Filêmon saiu à porta e sorridente foi logo dizendo: Forasteiros, vocês devem estar exaustos e com fome. Entrem. A  casa é pobre mas aberta para acolhê-los.
Báucis ofereceu-lhes logo um assento enquanto Filêmon acendeu o fogo. Báucis esquentou água e começou a lavar os pés dos andarilhos. Com os legumes e um pouco de toucinho fizeram uma sopa suculenta. Por fim, ofereceram a própria cama para que os forasteiros pudessem descansar.
Nisso sobreveio grande tempestade. As águas subiram rapidamente e ameaçavam a região. Quando Báucis e Filêmon quiseram socorrer os vizinhos, ocorreu uma grande transformação: a tempestade parou e, de repente, a pequena choupana foi transformada num luzidio templo dourado. Báucis e Filêmon ficaram estarrecidos. Júpiter foi logo dizendo: Por causa da hospitalidade quero atender um pedido que fizerem. Báucis e Filêmon disseram unissonamente: O nosso desejo é servir-vos nesse templo por toda a vida. Hermes não ficou atrás: Quero que façam também um pedido. E eles, como se tivessem combinado, responderam: Depois de tanto amor gostaríamos de morrer juntos.
Seus pedidos foram atendidos. Um dia, quando estavam sentados no átrio, de repente Filêmon viu que o corpo de Báucis se revestia de folhagens floridas e que o seu próprio corpo também se cobria de folhas verdes. Mal puderam dizer adeus um ao outro. Filêmon foi transformado num enorme carvalho e Báucis numa frondosa  tília. As copas e os galhos se entrelaçaram no alto. E assim, abraçados, ficaram unidos para sempre. Os velhos até hoje repetem a lição: quem hospeda forasteiros, hospeda a Deus.
A Comunidade da Abadia da Ressurreição de Ponta Grossa tem sido para nós como o casal Filêmon e Baucis. Aqui viemos fazer uma experiência de 2 anos, mais ou menos, que corresponde, na linguagem da formação monástica, ao Noviciado. E o que é experiência? Vamos dissecar esta palavra apelando para a etimologia:
Ex = é uma preposição latina que significa estar orientado para fora, exposto a, aberto para. Por exemplo: ex-clamação; ex-posição; ex-istência. Manifesta uma característica fundamental do Homem que é, justamente, ser voltado para fora, em diálogo e em comunhão com o outro ou o mundo.
Peri = diz respeito a todos os lados. Daí “periferia”.
Ência = nos remete ao conhecimento. Por exemplo: “Ciência”.
Então, numa interpretação livre, a experiência seria o conhecimento que o Homem adquire quando sai de si e estuda o mundo por todos os lados. Não viemos em busca de conhecimento teórico ou livresco. Para isto não haveria necessidade de sair de Mossoró. Mas viemos em busca de viver a realidade de um Mosteiro nas suas  múltiplas dimensões: liturgia, trabalho, administração, tradição monástica, espiritualidade, formação, etc. Naquela concepção de Aristóteles que diz: “A experiência não resulta de uma percepção isolada, mas constitui uma síntese de muitas percepções e combinações reunidas, naquilo que possuem de comum, dentro de um modelo esquemático”.
Que Deus Uno e Trino, a Santíssima Virgem Maria e nosso Pai S. Bento derramem sobre todos vocês copiosas bênçãos.
 
Grande abraço.
 
Ir. Manoel, OSB

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Apoftgemas

O Abade João o eunuco, quando era jovem, perguntou a um ancião: “Como pudeste vós outros realizar a obra de Deus em paz? Nós nem com fadiga conseguimos realizar”. Respondeu o ancião: “Nós o pudemos, porque estimamos a obra de Deus como o principal e as necessidades do corpo como o mínimo. Vós, porém, tendes as necessidades do corpo como o principal, e a obra de Deus como menos necessária. Por isto é que vos fatigais, por isso também é que o Salvador disse a seus discípulos: “Homens de pouca fé, procurai primeiramente o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo”. (João o Eunuco, 1)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Tércia: revivendo Pentecostes

Às 9 horas, fazemos a primeira pausa em nosso dia para rezarmos o Ofício de Tércia ou Terça. Esse momento nos relembra o dom do Espírito Santo que desceu sobre os Apóstolos e os ensinou a falar em todas as línguas para levar o nome de Cristo até os confins da terra. Em nossa rotina, esse Ofício tem um sabor especial, pois meditamos sempre um trecho do salmo 118 que é uma meditação sobre a Palavra de Deus; e sendo este o momento em que o Espírito Santo abriu as mentes dos primeiros anunciadores do Reino, pedimos que ele abra nossa mente para compreendermos sempre mais as maravilhas da Palavra de Deus. Tércia é a primeira das três Horas Menores, assim chamadas porque estes Ofícios são sensivelmente mais breves que as Horas Maiores.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Nossa Senhora rega a ‘planta’

Durante o segundo semestre de 2006, nosso fundador esteve angustiado. Afinal, sem saber onde beber da tradição e com as pessoas pedindo uma resposta, só nos restava nos recomendarmos às orações das pessoas. E como diz Jesus: “Pedi e recebereis”. Padre Guimarães recebeu então uma revista onde havia uma reportagem sobre Nossa Senhora. Foi nesse momento que se percebeu a ausência dela no projeto; justamente a Consoladora dos aflitos, Advogada nossa e Mãe da Divina Graça, Jesus Cristo. Isso ocorreu em uma sexta-feira, quando nosso fundador acendeu uma vela, rezou um terço e confiantemente pedia que ela indicasse o caminho a seguir. Na segunda-feira, tudo clareou. A Abadia da Ressurreição, em Ponta Grossa (PR) que não estava nos planos. O pedido foi feito ao Abade do mosteiro e após o tempo necessário, ele respondeu que o receberia “de portas e corações abertos”. A partir desse momento, nada mais se faz sem a Mãe do Bom Conselho que no momento mais crucial do projeto não nos desamparou.

domingo, 13 de novembro de 2011

Apoftgemas

O Abade Abraão dizia de um dos habitantes da Cétia que era perito em escrever e não comia pão. Certa vez um irmão foi pedir a esse que lhe escrevesse algo sobre uma tabuinha. Ora o ancião, tendo a mente ocupada em contemplação, escreveu omitindo versos e não observando alinhamento. O irmão então tomou o escrito e quis retocar o alinhamento; nisto porém, notou que faltavam frases. Disse, pois, ao ancião: “Vai, cumpre primeiro o que está escrito; depois volta, e te escreverei o resto”. (Apoftegma 3)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

As Laudes e o Sol nascente

Às 6h, rezamos o Ofício de Laudes. Laudes vem do latim 'laudare' que significa louvar; esse nome surgiu porque ao iniciar o dia sempre eram rezados os salmos 148, 149 e 150 que iniciam com o verbo louvar. O Ofício de Laudes é rezado ao iniciar o dia, ou seja, quando o Sol nasce. Porque o Cristo Senhor ressuscitou ao nascer do dia, transformando-se assim no verdadeiro Sol da Justiça que 'ilumina todo homem, extirpando as trevas' (como diz um hino que cantamos). Laudes é um dos ofícios mais importantes do dia, pois com ela consagramos todo o nosso dia a Deus; os leigos também são convidados a rezarem esse ofício, pois consagrar o dia a Deus é um dever do cristão que deseja ser considerado digno desse nome,

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nosso Ofício Divino

Algumas pessoas ao conhecerem nosso ritmo de vida, assustam-se com nossos horários. Por isso, nos próximos dias iremos postar a importância de rezarmos cada Ofício em uma determinada hora do dia.
Nosso dia inicia com o Ofício de Vigílias às 4h20min. Rezamos ainda de madrugada, pois o ato de vigiar requer sacrifícios. O que nos inspira é a palavra de Cristo no Evangelho de Lucas (21, 36): "Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do homem". Sabemos que Nosso Senhor um dia irá voltar, mas não sabemos quando. A esse respeito, Ele contou várias parábolas e uma das mais interessantes e que acontece muito hoje fala sobre o dono da casa, que se soubesse quando o ladrão chegaria não seria assaltado, pois não se surpreenderia. O Cristo voltará como um ladrão, ou seja, silenciosa e repentinamente... Quando rezamos vigílias nos lembramos desses fatos e esperamos estar vigilantes quando Jesus voltar para consumar a história.

domingo, 30 de outubro de 2011

A ‘planta’ começa a vicejar

Rapidamente alguns meios de comunicação procuraram nosso fundador. Esse fato foi salutar, pois divulgou o Projeto para todos, os próximos e os distantes.
Conversando com o Bispo Diocesano, agora D. Mariano Manzana, ficou combinado que seria necessário passar ao menos seis meses em um Mosteiro. Nosso fundador que já vinha meditando sobre como pedir para passar um ano fora, decidiu  cumprir um “ano sabático” logo após a celebração do Jubileu de Prata Sacerdotal (07 de junho de 2006).
No início de 2006, dois abades da Província Francesa da Congregação Sublacense vieram fazer Visita Canônica no Mosteiro da Anunciação do Senhor e passaram por São José do Mipibu. Por essa ocasião, nosso fundador conheceu D. Jacques Damestoy, Abade de Belloc, e D. Joel Chauvelot, Abade de Tournay e foi convidado para receber a Tradição em uma das duas Abadias. Ao regressar a Mossoró, as reações foram negativas; de um lado, os futuros oblatos se sentiam inseguros com o fato de logo no início ficarem separados por um oceano, de outro, Padre Sátiro comentou que o que havia na França, existia também no Brasil. Ao comunicar a decisão aos abades franceses, eles compreenderam e sugeriram a Abadia de Olinda. Infelizmente, eles não podiam acolher pois estavam recebendo um novo Abade e transferindo o Noviciado para Salvador; a mesma recusa foi ouvida da Comunidade de Mecejana e do Priorado de Garanhuns. Já tendo celebrado o Jubileu de Prata e sem saber para onde ir, Padre Manoel entra em contato com o Arquiabade de Salvador e Abade Presidente da Congregação Beneditina do Brasil.

A semente começa a germinar

Nessa época, Padre Flávio Jerônimo do Nascimento, encardinado na Diocese de Mossoró, foi residir em uma comunidade monástica em Natal. Padre Flávio estava já idoso e doente, quando faleceu. D. Bruno acompanhou o esquife para sepultamento em nossa cidade. Nessa ocasião, Padre Guimarães aproveitou para conversar a respeito do projeto. Aí a semente começou a germinar, pois pela primeira vez nosso fundador soube quais providências teriam que ser tomadas. As duas primeiras eram criar uma Associação Civil e criar um estatuto. Enquanto não se tomavam essas providências, o Padre ia regularmente a São José do Mipibu para conhecer a rotina de uma comunidade monástica. Nessa mesma época, através de D. Bruno, nosso fundador conheceu a realidade dos oblatos que são leigos decididos a viver a espiritualidade de São Bento sem deixar seu estado de vida. Foi quando ele se lembrou dos amigos que gostariam de ter uma participação mais ativa do que como simples colaboradores, e criou o grupo dos “futuros oblatos”.

Lançando a semente

Padre Guimarães rezava a Deus que enviasse alguém para ajudá-lo nessa empreitada. Pois ele tinha apenas boa vontade e isso não era quase nada. Foi quando apareceu um rapaz querendo conversar. Nosso fundador já o havia visto nas Missas Dominicais, sempre acompanhado de uma senhora (sua mãe) e cujo jeito piedoso já lhe havia chamado a atenção. Seu nome era Queiroz, passava dos 40 anos, nascido no Ceará, mas morou muito tempo em São Paulo; o motivo da conversa era sua vontade de ingressar na vida monástica. Brotou o riso de Sara na face do Padre. Reconhecendo nessa procura o sinal de Deus, Padre Guimarães partilha a semente do projeto com Queiroz e ambos oram juntos para que Deus envie vocações para a futura comunidade monástica. 
Apareceram  alguns leigos amigos desejando conhecer melhor o Projeto e ansiando por colaborar de alguma forma. Surgiram também alguns jovens desejosos de conhecer a Escola de Serviço do Senhor, por isso iniciaram algumas reuniões freqüentes para estudar a Sagrada Escritura ou outro material que julgassem necessário.

Conhecendo a semente

A Casa da Santíssima Trindade nasceu da vocação de Padre Manoel Vieira Guimarães  Neto, suscitada quando assistiu ao filme “Marcelino Pão e Vinho” (direção de Ladislao Vajda, estrelado por Pablito Calvo e que em 1955 ganhou o prêmio de melhor filme estrangeiro no Festival de Cannes); o que mais o encantou não foi a história de um menino órfão abandonado às portas de um Convento Franciscano, mas o estilo de vida ali retratado. Trabalhar, rezar, o relacionamento dos frades com o povo, comer em comum, tudo isso tocou o nosso fundador.
Contudo, não havia Mosteiros em Mossoró. Somente existia o Seminário Menor de Santa Teresinha e ali ingressou Padre Guimarães.
Corria o ano de 2001, o 20º desde a Ordenação Sacerdotal. Padre Guimarães decide então participar de um Retiro Inaciano. Ao término do Retiro, a conclusão era que não havia crise na vocação, mas duas coisas faltavam em sua rotina: silêncio e vida comunitária. Mas, onde conseguir isso? Resposta simples: num MOSTEIRO. Sem desejar sair de sua cidade natal, nosso fundador decide aqui na Terra de Santa Luzia edificar a Casa de São Bento.
Decidido a cumprir a vontade de Deus, Padre Guimarães pede que Ele envie um sinal para saber o que fazer. Se fosse obra de Deus que as portas se abrissem, caso contrário que as portas se fechassem. Como diz o Evangelho: “Batei e a porta vos será aberta” (Mt 7,7).
A porta começou a se abrir quando falando com alguns irmãos no sacerdócio percebeu que a ideia era bem-acolhida. Ao falar com o Bispo de Mossoró, D. José Freire, e sentir apoio da parte dele também; sentia-se cada vez mais admirado com essas manifestações de apoio.