terça-feira, 6 de dezembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 1ª carta em Mossoró

Mossoró, 12 de Abril de 2009.
 
Amigos (as):
PAX!
 
         Que a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo faça surgir do mais profundo do nosso ser aquele Homem Novo comprometido verdadeiramente com o Reino. E que a Justiça seja, de fato, o fruto maduro da Paz.
         Várias pessoas têm me perguntado como será o nosso Mosteiro e porque ele não começou ainda. Partilho com vocês as idéias nascidas dessa minha experiência de dois anos e os encaminhamentos práticos que foram dados a partir do que foi discutido com o Bispo e com o Conselho Presbiteral:
1.   A nossa Diocese chegou à conclusão  que não tinha como assumir este Projeto de Fundação. Mas me liberou para que eu possa começar a experiência, depois de eu ter cumprido a exigência do Direito Canônico que é um ano de Noviciado, que eu fiz na Abadia da Ressurreição, em Ponta Grossa, PR.
2.   Agora estou organizando a futura Comunidade, me articulando com alguns irmãos que se mostram interessados no Projeto. Graças a Deus eu nunca estive só e sempre teve gente interessada no Projeto. Tanto que eu tive que fazer uma seleção, porque prefiro qualidade à quantidade. E é  porque não foi feita nenhuma campanha vocacional. Já fui muito ansioso e apressado. Não sou mais. Aprendi que o tempo de Deus não é o nosso. O nosso é o Kronos (do relógio); o de Deus é o Kairós (da graça). A espera silenciosa e calma produz frutos mais saborosos.
3.   O Projeto do nosso futuro Mosteiro em suas várias dimensões (Arquitetura, Formação, Liturgia e Manutenção)  está pronto, mas vamos começar devagarinho. Nos doaram um terreno de 10 hectares a 12 km do perímetro urbano, na estrada velha de Upanema, mas só queremos utilizá-lo daqui a alguns anos quando construiremos o prédio definitivo. Trata-se de um complexo arquitetônico composto de três partes: a hospedaria, o conjunto de Oficinas e fabriquetas e o Mosteiro propriamente dito. Por enquanto optamos por uma estrutura menor para começar a experiência e para isso alugamos uma Chácara na BR 304, saída pra Natal, antes do Posto da Polícia Rodoviária Federal. E lá já começamos a experiência de  acordo com as nossas limitações.
4.   Não estaremos ligados à Diocese,  a nenhum outro Mosteiro, nem a nenhuma Ordem ou Congregação. Mesmo assim é legítima a nossa iniciativa porque S. Bento é patrimônio de toda a Igreja Universal e por isso podemos fundar um Mosteiro com todos os valores que  caracterizam os Mosteiros Beneditinos: o silêncio, a Oração pessoal e comunitária (sobretudo o Ofício Divino), uma Liturgia bem celebrada, a Lectio Divina, uma intensa vida comunitária, o estudo,  o hábito (diferenciado por causa do clima e para não confundir com o dos outros Mosteiros), a clausura, o trabalho, o nome novo e uma acolhida alegre e fraterna aos hóspedes que nos procurarem.
5.   Nosso estilo de vida é conhecido dentro da Igreja como vida contemplativa e o modelo mais parecido que temos aqui em Mossoró é o das Clarissas. Estaremos circunscritos aos nossos muros com a única finalidade de rezar e trabalhar, como queria Nosso Pai S. Bento. Não representaremos, portanto, nenhuma ameaça para a Pastoral nem para nenhum Movimento eclesial. Estaremos à disposição de todos com nosso serviço específico ao povo de Deus próprio da vida monástica. Por isso não deveremos ser procurados para atividades pertinentes à estrutura Paroquial como Casamentos e Batizados, a não ser em casos muito especiais e com a devida autorização do Pároco ou Vigário. Da minha parte preferiria que não houvesse nenhum caso. Também não gostaríamos de ser vistos como “quebra-galhos” dos Padres nas suas ausências porque a presença dos Monges no coro para o louvor divino é imprescindível. E isso acontece sete vezes durante o dia. Além do mais aquilo que chamamos de anacorese (afastamento do mundo exterior) é essencial na nossa vida. Não para negá-lo ou rejeitá-lo, mas para assumí-lo com mais responsabilidade e em profundidade.
     O desafio está lançado. O pedido que fizemos a Deus logo no início do nosso Projeto, que Ele nos mandasse cruz foi plenamente atendido. Os sofrimentos, incompreensões e humilhações são contínuos e abundantes. Graças a Deus. Sinal de que é obra divina, pois foi o próprio Jesus que disse: “Quem quiser me seguir renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga”.
     Peço orações a todos para que o nosso futuro Mosteiro seja fonte de muitas bênçãos e graças para nosso povo.
     Que a Trindade Santa nos ilumine, a Virgem Santa nos proteja e o Nosso Pai S. Bento interceda continuamente por todos nós.
     Grande abraço do
 
Ir. Manoel

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