terça-feira, 27 de dezembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 4ª carta em Mossoró

Mossoró, 13 de dezembro de 2009.
 
Amigos (as):
PAX!
 
         A vida que S. Bento pensou e projetou para seus filhos nos Mosteiros está baseada em dois grandes pilares: a Oração e o Trabalho. E desde o começo ele pede para que o candidato seja iniciado na dureza da vida que vai encontrar lá dentro:
         “Apresentando-se alguém para a vida monástica, não se lhe conceda fácil ingresso, mas, como diz o Apóstolo: Provai os espíritos, se são de Deus (1 Jo 4,1). (...) Sejam-lhe dadas a conhecer, previamente, todas as coisas duras e ásperas pelas quais se vai a Deus” (Santa Regra 58, 1.2.8).
         De fato, a vida dos monges não é nada fácil, mas também não é nada insuportável. Pelo contrário, se vivida na simplicidade, na humildade e na alegria é caminho seguro para se elevar até Deus. Tanto que, chegando o fim do dia, não se vê ninguém estressado ou exausto pelas tarefas cotidianas. Porque a jornada num Mosteiro é pensada de maneira que tudo seja vivido de forma equilibrada, com alternâncias significativas entre refeição e jejum, trabalho e repouso, sono e vigília, oração e lazer...
Para S. Bento “a ociosidade é inimiga da alma; por isso, em certas horas, devem ocupar-se os irmãos com o trabalho manual e em outras horas com a leitura espiritual” (Santa Regra 48, 1). Não é à toa que, quando terminamos a última oração comunitária (Completas) e voltamos às nossas celas, durante o Grande Silêncio que só vai ser rompido após a oração de Laudes no outro dia, o corpo está razoavelmente cansado, mas o espírito está pleno e  tudo que mais queremos é uma agradável noite de repouso sereno e reparador.
         Outra coisa bastante interessante é a associação que é feita entre Oração e Trabalho. Não são duas coisas isoladas, estanques. O Trabalho é visto como uma continuação da Oração, naquela perspectiva da Primeira Carta de S. Paulo aos Tessalonicenses 5, 17: “Rezem sem cessar”.
         “Se, entretanto,alguém for tão negligente ou relaxado que não queira ou não possa meditar ou ler, determine-se-lhe um trabalho que possa fazer, para que não fique à toa” (Santa Regra 48, 23)
         No nosso futuro Mosteiro da Santíssima Trindade elaboramos um Projeto bastante interessante neste sentido. Como temos que nos preocupar com a nossa manutenção e a nossa independência financeira, iremos plantar um Bosque com árvores nativas, um Pomar com árvores frutíferas e uma horta (inclusive com plantas medicinais) para diminuirmos os custos com alimentação, já que teremos frutas, verduras e legumes.
         Também pensamos em criar alguns animais: Alevinos, Ovinos, Caprinos, Bovinos  para garantir ovos, carne,  leite e derivados.
         Como pretendemos também trabalhar com as Comunidades vizinhas, elaboramos, através da Associação Civil da Santíssima Trindade (que será a mantenedora do Mosteiro e, para isso terá que correr atrás de  verbas e patrocínios), alguns sub-projetos:
 
a)  Homens – “Grupo S. Bento”
Padaria
Apicultura
Fábrica de Polpa de Frutas
Marcenaria  
b)   Mulheres – “Grupo Sta. Escolástica”
Artesanato
Licoraria
Fábrica de Velas (comerciais, litúrgicas e artísticas)
Tear
c)    Jovens – “Grupo Ora et Labora”
         Fábrica de Material de Limpeza
         Fábrica de Incenso
         Serigrafia
         Gráfica
d)   Crianças – “Grupo S. Plácido e S. Mauro”
Farmacinha Comunitária
Guias Mirins
Venda de frutas e verduras
         Claro que tudo isso faz parte do grande projeto do Mosteiro como um todo. No início tudo será muito pequeno, de acordo com as circunstâncias e dificuldades que toda a Obra carrega quando está começando. Mas, pelo menos, temos claros os objetivos que queremos atingir.
Outro detalhe que me atrai na extraordinária figura de S. Bento com relação ao trabalho: Profundo conhecedor que é da natureza humana, ele também se preocupa com os mais fracos:
         “Aos irmãos enfermos ou delicados designe-se um trabalho ou ofício, de tal sorte que não fiquem ociosos nem sejam oprimidos ou afugentados pela violência do trabalho; a fraqueza desses deve ser levada em consideração pelo Abade” (Santa  Regra 48, 24 e 25)
A Trindade Santa, a Virgem Maria e nosso Pai S. Bento sejam a grande inspiração para a  nossa vida de Monges trabalhadores e orantes
Grande abraço do
 
Ir. Manoel

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

“Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança e salvação dos povos: vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus.”

Hoje clamamos na esperança que ele se faça Deus conosco. Condensamos tudo o que reconhecemos nesses últimos dias. Ele é Rei, Legislador, Esperança, Salvação; enfim, ele é a nossa vida. Preparemo-nos, pois, para receber a salvação que o Senhor nosso Deus, nos envia. E com essa esperança digamos: Salvai-nos, ó Senhor  nosso Deus!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

“Ó Rei das nações, desejado por todas, Pedra Angular que faz a unidade da Igreja: vinde salvar o homem que formastes do pó da terra.”

O fim do ano litúrgico é marcado pela Solenidade de Cristo Rei. Hoje reafirmamos mais uma vez que ele é o Rei de todas as nações e mais do que ser Rei, ele é desejado. Isso significa dizer que a presença dele é necessária. Pois, como viver sem ele, a Pedra Angular que une toda a Igreja? Sem a Pedra Angular, todo edifício rui; sem ele, a Igreja se desmorona também. Conscientes de tudo isso, pedimos que ele salve a nós que somos apenas pó.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

“Ó Sol nascente, esplendor da Luz Eterna e Sol de Justiça: vinde iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte.”

Reforçando a ideia de ontem, quando falávamos de sentar à sombra da morte, hoje unimo-nos a Zacarias que, no nascimento de João Batista, já cantava a libertação dos que se sentam à sombra da morte. O Cristo é o verdadeiro Sol que ilumina nossa vida, por isso ele veio extirpar as trevas do pecado e a sombra da morte em nossa vida. Não nos esqueçamos do que ele disse a Marta e Maria: “Quem crê em mim, ainda que morto viverá”.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

“Ó Chave da Casa de Davi, que abris e ninguém pode fechar, fechais e ninguém pode abrir: vinde libertar os que vivem nas trevas e nas sombras da morte.”

Jesus Cristo é a única chave. O  texto latino reforça ainda mais seu poder  o chamando de ‘cetro da casa de Israel’. O Senhor, portanto possui todo o poder de abrir e fechar e, conforme disse em suas parábolas, quando ele fechar as portas, mais ninguém entrará. Por isso, o que ele fecha ninguém abre e a recíproca é verdadeira. Sendo ele, a verdadeira chave, nosso dever é pedir que ele venha nos libertar das trevas do pecado para não nos sentarmos à sombra da morte.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

“Ó Raiz de Jessé, sinal erguido ante as nações, diante de quem se calam os poderosos e os povos suplicam: Vinde salvar-nos! Libertai-nos sem demora!”

Jessé foi o pai do rei Davi. Cristo veio pôr novamente no trono a linhagem de Jessé. Contudo, o Senhor existe desde a criação do mundo, sendo por isso mesmo a raiz de Jessé; pois antes que Jessé fosse criado, Jesus já sabia que nasceria em sua família. O trono de Cristo é a cruz, por isso ele é o sinal erguido perante todas as nações. Por ser “loucura para os gregos e escândalo para os judeus”, o Senhor é a esperança dos humildes e por isso os poderosos se calam. Calam por não compreender e enquanto isso, os humildes (o povão) clamam pela sua vinda que será a nossa libertação. Oxalá não demore a Parusia que nos libertará definitivamente de toda escravidão.

domingo, 18 de dezembro de 2011

“Ó Adonai, chefe da casa de Israel, que aparecestes a Moisés na sarça ardente e lhe destes no Sinai a vossa Lei: vinde libertar-nos com o poder do vosso braço.”

Adonai era a maneira que os judeus chamavam YHWH. Adonai pode ser traduzido por Senhor. A antífona de hoje proclama Cristo como o Senhor de todos nós, pois, após a vinda do Cristo, nós somos parte também da casa de Israel. A sarça que não se consumia é uma imagem da virgindade de Maria, por isso Moisés foi um dos primeiros a contemplar o mistério da redenção humana. No monte Sinai, o Senhor deu os Dez Mandamentos (Lei) para que o povo observasse. Na plenitude dos tempos, seu Filho dará uma nova lei: “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”. Reconhecendo em Cristo o cumprimento de toda a libertação do povo de Deus, resta-nos apenas pedir que Ele nos liberte com o poder do seu braço. O mesmo braço poderoso que nos levanta quando caímos, como diz o salmista. Iluminados por esta antífona, nunca desesperemos da salvação de Deus, pois ele sempre virá nos salvar.

sábado, 17 de dezembro de 2011

“Ó Sabedoria do Altíssimo, que tudo governais com firmeza e suavidade: vinde ensinar-nos o caminho da prudência.”

Hoje, estamos iniciando a Semana Santa do Natal e reconhecemos neste dia que o Messias é Sabedoria do Altíssimo e vem para governar, isto é, o Senhor vem para nos conduzir para o caminho da vida eterna. E,  como verdadeiro sábio,  é firme e suave. Firme para que não o queiramos conduzir, mas nos deixemos ser conduzidos; suave para encontrarmos nele repouso quando voltamos das fadigas do mundo. Reconhecendo-O como a Verdadeira Sabedoria pedimos que Ele nos ensine o caminho da prudência. O caminho da prudência é ter a nossa lâmpada cheia de óleo. A lâmpada é uma imagem da nossa vida e o óleo é o Espírito Santo. Portanto, pedimos ao Cristo que nos ensine a viver segundo o Amor de Deus. Que nesse início de preparação ao Natal, decidamos trilhar apenas o caminho de Deus.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 3ª carta em Mossoró

Mossoró, 28 de junho de 2009.
 
Amigos (as):
PAX!
 
         A experiência de fundar um Mosteiro Beneditino tem sido pra mim de uma riqueza indescritível! Tenho tentado passar pra vocês, através dessas Cartas aos domingos, um pouco de tudo que eu tenho vivido, mas tenho  consciência de que nem de longe as palavras  são capazes de traduzir tudo o que eu sinto.
         Algumas coisas a gente pode verbalizar. Outras não. É impossível, já que se situam na esfera espiritual. Partilho, então, com vocês aquilo que eu consigo expresssar.  Pouco a pouco Deus foi me mostrando que quem conduz o processo não sou eu, mas Ele. Quantas e quantas vezes eu pensei estar percorrendo o caminho certo e, lá pras tantas, Ele me aponta um caminho totalmente diferente. No início eu ficava atônito, perplexo, porque eu acreditava piamente que aquilo era exatamente o que eu deveria fazer. Eu estava tão seguro! Pra mim, às vezes, era tão claro que parecia impossível estar equivocado. E como eu me enganei!.. Por exemplo, eu estava convencido que o meu Noviciado seria na França: os Abades D. Jacques e D. Joel me haviam convidado e estava tudo encaminhado neste sentido. Pra mim não seria nenhum sacrifício retornar à França, que é um país que eu amo tanto. Não deu certo. Aí pensei em vários lugares: Olinda, Messejana, Garanhuns, Salvador, Rio de Janeiro... Não foi nenhum desses Mosteiros que Deus reservou para mim, mas um que nem estava na minha lista: Ponta Grossa, PR.
         Outra coisa que aprendi foi que todas as mudanças que houve foram sempre, indiscutivelmente, para melhor. Então fui me acostumando e, longe de me frustrar, elas começaram a ser encaradas como necessárias e, portanto, bem vindas. Por exemplo: eu saí de Mossoró com o propósito de, após terminar o Noviciado, voltar à nossa cidade e iniciar uma experiência diocesana. Mas, lá em Ponta Grossa o Abade achou melhor assumir a Fundação, que eu imaginava ser a melhor opção. Porém depois Deus interferiu mais uma vez apontando uma outra alternativa... certamente a melhor. A experiência que a Trindade quer de nós parece ir na direção de uma maior liberdade, o que é ao mesmo tempo muito bom e extremamente desafiador, uma vez que a responsabilidade é infinita e espantosamente maior.
         Outra coisa que eu aprendi muito foi com relação ao tempo. Antes eu era muito apressado, queria ver logo resultados, chegando até a definir data de Fundação, número dos monges fundadores, etc... A Trindade me fez ver que esse “departamento” não me dizia respeito. Como eu me enganei ao interpretar como um “sinal” de Deus a coincidência da Festa da Santíssima Trindade acontecer no mesmo dia em que eu completei 28 anos de Padre: 7 de junho. Pra mim era tão claro que o Mosteiro tinha que ser fundado nesta data! Ainda não era dessa vez.
         Mas talvez a experiência mais rica seja a da Cruz. Vocês sabem que, no início, tudo estava acontecendo sem nenhum problema, tudo fácil demais, o que me levou a desconfiar se o Projeto era mesmo de origem divina. Na dúvida começamos a pedir a Deus que nos mandasse Cruz como prova de que era mesmo vontade dEle. Aí Ele nos atendeu prodiga e generosamente. E nunca mais faltou sofrimento: injustiças, agressões, humilhações, calúnias, etc... Justamente vindas de quem menos esperávamos. Algumas pessoas não entendem a minha reação diante de tudo isso e querem que eu responda com a mesma “moeda”... Mas como fazer isso se é exatamente a Cruz que me dá a segurança de estar no caminho certo? Não conheço nenhuma história de Fundação que não tenha Cruz... Como descer ao nível de quem me agride se pra mim toda agressão é sinal de insegurança e fraqueza e eu me sinto cada dia mais seguro e mais forte?!. Como odiar quem me humilha se é exatamente nessas circunstâncias que eu me aproximo cada vez mais do Cristo sofredor e humilhado? Somente uma coisa me angustia: sei que a humildade é uma virtude e acho que Deus me deu esta graça (portanto nenhum mérito meu), mas a humilhação é um pecado e, portanto, tenho evitado ser causa de pecado para alguns irmãos me afastando temporariamente deles. Como estranhar isso tudo se, de uma certa forma, tudo isso era esperado e até desejado por nós?
         Antes também eu desejava iniciar de uma forma diferente: com um bom número de candidatos e já num edifício definitivo e bem grande. Mas lá em Ponta Grossa nosso santo ancião D. Geraldo me advertia: “Comece pequenininho, Padre. Comece pobre”. Hoje percebo que ele tinha razão. Ele que tinha tanta vontade de participar conosco desta Fundação!..  Ele que sonhou tanto conosco!.. Hoje me vejo na obrigação de fazer uma seleção rigorosa no processo de escolha, porque o que importa no momento é a qualidade e não a quantidade. E tenho recebido apelos dramáticos de alguns interessados pedindo que eu os aceite “por tudo quanto há de mais sagrado!” Mas é justamente em nome dessa “sacralidade” que eu não posso aceitar todo mundo. Só peço a Deus duas coisas: que eu não cometa nenhuma injustiça e que eu não comprometa o projeto.
         O resto, meus amigos, é pura alegria! Satisfação, prazer, contentamento... ao lado de muita paciência, humildade, reconhecimento da nossa insignificância e pequenez! Peço que continuem rezando por nós, para que sejamos fiéis e perseverantes até o fim.
         A Trindade Santa nos ilumine, a prudência da Virgem Maria nos inspire e a sabedoria humana de Nosso Pai S. Bento nos esimule.
         Grande abraço do
Ir. Manoel

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Completas e o repouso noturno

Como o próprio nome diz, esse ofício ‘completa’ o nosso dia. Esse ofício é rezado para encerrar o dia, em Casa rezamos por volta das 19h30min. Completas é também a oportunidade de ouvirmos a Regra de Nosso Pai São Bento e baseado nela analisarmos como vivemos esse dia no mosteiro. Aproveitamos também para interceder por toda a cidade de Mossoró, rogando a Deus que durante a noite ‘nenhum mal aconteça’. O Ofício encerra-se cantando uma antífona para Nossa Senhora; ao terminar a antífona começa o grande silêncio que só será quebrado com as Laudes no dia seguinte. Completamos assim a explicação de cada Ofício Divino rezado
durante o dia.

sábado, 10 de dezembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 2ª carta em Mossoró

Mossoró, 26 de Abril de 2009.
 
Amigos (as):
PAX!
 
         Aproveitei a minha permanência em Olinda e resolvi consultar um competente canonista, especializado em vida religiosa, para ouvir dele um parecer a respeito da minha situação e da Fundação do nosso Mosteiro. Conversamos, praticamente, durante uma tarde inteira. No final, depois de me tirar todas as dúvidas, lhe pedi que me enviasse  um arrazoado a partir do qual  eu pudesse me basear já que decidi, daqui pra frente, seguir apenas as minhas intuições, ao invés de escutar todo mundo, como eu costumava fazer. Talvez, se eu tivesse feito isso há mais tempo, a situação fosse outra hoje. Mas, como diz o poeta Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena!”
         Para quem não o conhece,  Frei Francisco Fernando da Silva, ofm, é formado em Filosofia e Teologia, com pós graduação em Letras e Mestrado em Direito Canônico pelo Instituto de Direito Canônico do Rio de Janeiro, sendo este filiado à Universidade Gregoriana de Roma. Trabalha há vinte anos no Tribunal Eclesiástico do Regional Nordeste II da CNBB, dez dos quais como seu Presidente. Portanto, não é qualquer um que fala:
         “Constatada a impossibilidade de fundar um Mosteiro Beneditino na Diocese de Mossoró por via jurídico-canônica, porque não se pôde erigir um Mosteiro diocesano, nem se pôde criar uma filial de um Mosteiro já existente, não significa que ficaram esgotadas todas as possibilidades de fundação ou criação de um Mosteiro.
         Existe na Igreja um direito dos fiéis de fundar e dirigir livremente associações para os fins de caridade e piedade, e para favorecer a vocação cristã no mundo e conseguir estes fins em conjunto (c. 215).
         Estas associações, diferentes dos institutos de vida consagrada, formadas por leigos e clérigos, se empenham para fomentar uma vida mais perfeita, promover o culto público e a doutrina cristã e o exercício de obras de piedade e caridade (c. 298). Surgem de um acordo privado entre os fiéis, e por se originarem da iniciativa privada, mesmo louvadas e recomendadas pela autoridade eclesiástica, são chamadas associações privadas de fiéis (c. 299).
         A recepção dos membros será feita de acordo com o direito e os estatutos de cada associação (c. 307 parágrafo 1). Como essas associações se aproximam da vida consagrada e tendem à perfeição cristã e participam da espiritualidade de um Instituto Religioso (c. 303), podem fazer sua incorporação também através de uma profissão privada de votos, promessas, compromissos, juramentos ou outros vínculos sagrados ( c. 207 – parágrafo 2).
         A profissão é privada porque não é recebida pela Autoridade Competente da Igreja, isto é, trata-se de uma promessa ou compromisso feitos diretamente a Deus, sem interferência do Superior que representa a Igreja (c. 1192 – parágrafo 1). Como o voto público é próprio dos Institutos Religiosos (c. 607 – parágrafo 2), a profissão privada é feita nas Sociedades de vida apostólica (c. 831 – parágrafo 2) e pode-se fazer também naquelas associações que tendem à perfeição cristã.
         Atualmente estão surgindo muitas comunidades novas ou novos movimentos eclesiais que, sempre mais, abraçam a vida comunitária, hábito religioso, carisma próprio ou de algum instituto já existente, apostolado próprio de consagrados como evangelização e missão, mística, espiritualidade e contemplação, saúde e educação, etc.
         Por tudo isso concluímos que o Revmo. Pe. Guimarães poderá juntar dois ou três amigos que se encontram com o mesmo ideal de fazer uma experiência contemplativa no carisma de S. Bento e passar a viver em comunidade em sua Diocese de Mossoró.
         À medida que a comunidade for crescendo, os membros vão fazendo a sua profissão privada de obediência, estabilidade e conversão de costumes e vão formando os estatutos e amadurecendo a experiência, sem aprovação ou reprovação de ninguém.
         Com o tempo, certamente vai aumentar o número e surgirá naturalmente a necessidade e a oportunidade da aprovação da autoridade competente eclesiástica (c. 299 – parágrafo 3).
         Assim surgiu a grande maioria dos institutos de vida consagrada e sociedade de vida apostólica e dos demais movimentos eclesiais”. 
         Como estão vendo, as portas estão abertas e o nosso Mosteiro vai sair. “Parto” difícil, doloroso, mas a “criança” vai nascer, finalmente, e com muita saúde. Estou fazendo a seleção para a futura Comunidade Monástica. Não estou preocupado com quantidade (tanto que eu já dispensei vários), mas com qualidade.  Tenho pedido à Santíssima Trindade que não me mande, pelo menos agora, gente complicada que possa atrapalhar e até comprometer o Projeto. Também já não estou mais preocupado com o tempo. Não tenho mais pressa.
         Que a Trindade Santa nos ajude, a Virgem Maria nos proteja e nosso Pai S. Bento interceda por nós.
         Grande abraço do
Ir. Manoel

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Vésperas e o sol poente

Quando o sol declina, segundo o costume judaico o dia se finda iniciando o seguinte. O Ofício de Vésperas baseia-se nesse costume. Vésperas é o outro pólo de nosso dia; se em Laudes pedimos que o dia fosse consagrada a Deus, em Vésperas agradecemos o dia que passamos com Ele. Justamente por isso todo cristão deveria ao terminar o seu dia, parar e agradecer a Deus. Em nossa Casa, cantamos Vésperas às 17h30min. É interessante ressaltar que devido ao costume judaico e a primazia do Domingo em nossa vida, sábado é o único dia da semana que não tem Ofício de Vésperas próprio, sempre rezamos as Primeiras Vésperas do Domingo e no Dia do Senhor rezamos as Segundas Vésperas do Domingo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 1ª carta em Mossoró

Mossoró, 12 de Abril de 2009.
 
Amigos (as):
PAX!
 
         Que a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo faça surgir do mais profundo do nosso ser aquele Homem Novo comprometido verdadeiramente com o Reino. E que a Justiça seja, de fato, o fruto maduro da Paz.
         Várias pessoas têm me perguntado como será o nosso Mosteiro e porque ele não começou ainda. Partilho com vocês as idéias nascidas dessa minha experiência de dois anos e os encaminhamentos práticos que foram dados a partir do que foi discutido com o Bispo e com o Conselho Presbiteral:
1.   A nossa Diocese chegou à conclusão  que não tinha como assumir este Projeto de Fundação. Mas me liberou para que eu possa começar a experiência, depois de eu ter cumprido a exigência do Direito Canônico que é um ano de Noviciado, que eu fiz na Abadia da Ressurreição, em Ponta Grossa, PR.
2.   Agora estou organizando a futura Comunidade, me articulando com alguns irmãos que se mostram interessados no Projeto. Graças a Deus eu nunca estive só e sempre teve gente interessada no Projeto. Tanto que eu tive que fazer uma seleção, porque prefiro qualidade à quantidade. E é  porque não foi feita nenhuma campanha vocacional. Já fui muito ansioso e apressado. Não sou mais. Aprendi que o tempo de Deus não é o nosso. O nosso é o Kronos (do relógio); o de Deus é o Kairós (da graça). A espera silenciosa e calma produz frutos mais saborosos.
3.   O Projeto do nosso futuro Mosteiro em suas várias dimensões (Arquitetura, Formação, Liturgia e Manutenção)  está pronto, mas vamos começar devagarinho. Nos doaram um terreno de 10 hectares a 12 km do perímetro urbano, na estrada velha de Upanema, mas só queremos utilizá-lo daqui a alguns anos quando construiremos o prédio definitivo. Trata-se de um complexo arquitetônico composto de três partes: a hospedaria, o conjunto de Oficinas e fabriquetas e o Mosteiro propriamente dito. Por enquanto optamos por uma estrutura menor para começar a experiência e para isso alugamos uma Chácara na BR 304, saída pra Natal, antes do Posto da Polícia Rodoviária Federal. E lá já começamos a experiência de  acordo com as nossas limitações.
4.   Não estaremos ligados à Diocese,  a nenhum outro Mosteiro, nem a nenhuma Ordem ou Congregação. Mesmo assim é legítima a nossa iniciativa porque S. Bento é patrimônio de toda a Igreja Universal e por isso podemos fundar um Mosteiro com todos os valores que  caracterizam os Mosteiros Beneditinos: o silêncio, a Oração pessoal e comunitária (sobretudo o Ofício Divino), uma Liturgia bem celebrada, a Lectio Divina, uma intensa vida comunitária, o estudo,  o hábito (diferenciado por causa do clima e para não confundir com o dos outros Mosteiros), a clausura, o trabalho, o nome novo e uma acolhida alegre e fraterna aos hóspedes que nos procurarem.
5.   Nosso estilo de vida é conhecido dentro da Igreja como vida contemplativa e o modelo mais parecido que temos aqui em Mossoró é o das Clarissas. Estaremos circunscritos aos nossos muros com a única finalidade de rezar e trabalhar, como queria Nosso Pai S. Bento. Não representaremos, portanto, nenhuma ameaça para a Pastoral nem para nenhum Movimento eclesial. Estaremos à disposição de todos com nosso serviço específico ao povo de Deus próprio da vida monástica. Por isso não deveremos ser procurados para atividades pertinentes à estrutura Paroquial como Casamentos e Batizados, a não ser em casos muito especiais e com a devida autorização do Pároco ou Vigário. Da minha parte preferiria que não houvesse nenhum caso. Também não gostaríamos de ser vistos como “quebra-galhos” dos Padres nas suas ausências porque a presença dos Monges no coro para o louvor divino é imprescindível. E isso acontece sete vezes durante o dia. Além do mais aquilo que chamamos de anacorese (afastamento do mundo exterior) é essencial na nossa vida. Não para negá-lo ou rejeitá-lo, mas para assumí-lo com mais responsabilidade e em profundidade.
     O desafio está lançado. O pedido que fizemos a Deus logo no início do nosso Projeto, que Ele nos mandasse cruz foi plenamente atendido. Os sofrimentos, incompreensões e humilhações são contínuos e abundantes. Graças a Deus. Sinal de que é obra divina, pois foi o próprio Jesus que disse: “Quem quiser me seguir renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga”.
     Peço orações a todos para que o nosso futuro Mosteiro seja fonte de muitas bênçãos e graças para nosso povo.
     Que a Trindade Santa nos ilumine, a Virgem Santa nos proteja e o Nosso Pai S. Bento interceda continuamente por todos nós.
     Grande abraço do
 
Ir. Manoel

domingo, 4 de dezembro de 2011

Bênção sobre a cidade de Mossoró

Trindade Santa, contemplando vossa indivísivel Unidade e imensurável Amor, nós vos pedimos cobrir de bênçãos nossa querida cidade de Mossoró. Fazei descer sobre cada lar a saúde duradoura, a harmonia entre as pessoas e a alegria sincera, frutos do amor que é apenas um pálido reflexo do verdadeiro Amor que circula entre as Vossas Santíssimas Pessoas.

Velai o sono dos que dormem. Protegei os que caminham pelas ruas. Atenuai a dor dos que sofrem. Aumentai a esperança dos angustiados. Sarai os enfermos nos leitos dos hospitais ou de suas casas. Elevai o ânimo dos abatidos. Dai força aos fracos e humildade aos fortes.
Que nesta noite nenhum mal aconteça na nossa cidade e que todos durmam em paz. Que a luz vença as trevas. E que amanhã o Sol nasça radiante e vivificador e que todos enfrentem o novo dia cheios de confiança e temor a Deus.
Vos pedimos pela intercessão da Nossa Mãe, a sempre Virgem Maria, e de Nosso Pai São Bento. Amém!

sábado, 3 de dezembro de 2011

Noa: o Cristo que se doa

Às 14h30min, rezamos o Ofício de Noa. O nome deriva da nona hora do dia (aproximadamente 15h). Essa foi a hora em que o Cristo morreu por nós na cruz. Por isso, pedimos nesse Ofício “na tarde desta vida”, que o Senhor “conceda aos redimidos teu a páscoa merecida”. Associando assim, a tarde que declina com a nossa vida que caminha rumo à morte pedimos que Deus nos conceda a redenção que merecemos pela Paixão d’Ele.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

As Crônicas narradas através das Cartas de Ponta Grossa - 2ª carta

Ponta Grossa, 20 de julho de 2008.
 
Amigos:
PAX!
 
         No dia 28 de abril de 2006, Abades e Priores conventuais dos Mosteiros e Abadias vinculados à Congregação Beneditina do Brasil, preocupados com certos abusos que estavam acontecendo em algumas Fundações Diocesanas de Mosteiros (sei de dois casos que provocaram esta reação da referida Congregação), enviaram um Comunicado aos Bispos do Brasil reunidos em Itaici, na 44ª. Assembléia da CNBB, alertando sobre a gravidade da situação em tais casos.
         Ao chegar D. Mariano me passou uma cópia e, apesar de não me sentir atingido por este documento, já que não havia cometido nenhum erro, abuso ou agido de má fé, nem feito nada em nome daquela Congregação, pedi ao Pe. João Medeiros, que é um bom teólogo e conhecedor do Código de Direito Canônico, um parecer sobre o Comunicado dos Abades e Priores e uma orientação segura para nós, no sentido de evitar que fôssemos acusados de algum delito já que, naquela época, nós ainda estávamos pensando numa Fundação ligada à Diocese. Como sempre, Pe. João Medeiros foi brilhante. Gostaria de partilhar trechos do seu parecer com vocês, já que o espaço é pequeno para transcrevê-lo na íntegra:
         1.    Histórico
         É bem longa a história da vida beneditina na Igreja. Surgiram daí diversos ramos beneditinos, possuindo denominações diferentes e espalhados pelos cinco continentes. A maioria organizou-se em Congregações, reunindo Mosteiros de um ou vários países. Algumas Congregações se uniram e deram origem à Confederação Beneditina, sediada em Roma, no Colégio Santo Anselmo, tendo como Presidente o Abade Nolker Wolf. São estas as 20 Congregações Beneditinas ligadas à citada Confederação:
1. Congregação Americana-Cassinense (1855)
2. Congregação Americana-Suíça (1881)
3. Congregação Austríaca (1625)
4. Congregação Brasileira (1827)
5. Congregação Camaldulense (1980)
6. Congregação Cassinense (1408)
7. Congregação da Anunciação (1920)
8. Congregação da Bavária (1684)
9. Congregação da Vallumbrosa (1036)
10. Congregação de Beuron (1873)
11. Congregação de Solesmes (1837)
12. Congregação de Subiaco (1872)
13. Congregação do Cone-Sul  (1976)
14. Congregação Eslava (1945)
15. Congregação Húngara (1514)
16. Congregação Inglesa ( 1336)
17. Congregação Olivetana (1319)
18. Congregação Otilliense (1884)
19. Congregação Silvestrina (1231)
20. Congregação Suíça (1602)
         A Confederação não esgota a família beneditina. Há outros Mosteiros e casas religiosas ligadas à espiritualidade de S. Bento. Existem os monges beneditinos armênios, orientais, ortodoxos, anglicanos, os Amigos de S. Bento, Comunidade de Leigos Beneditinos e outras instituições não vinculados à Confederação Beneditina.
         Convém lembrar que há Abadias e Mosteiros de inspiração beneditina (vivendo segundo a Regra de S. Bento) que, ao longo da história, foram se separando do tronco tradicional e constituíram novas famílias. Hoje são aceitos e reconhecidos em toda a Igreja. Dentre eles estão os monges cartuxos, cistercienses e trapistas.
         Os beneditinos encontram-se no Brasil desde 1596 e continuam presentes através da Congregação Beneditina Brasileira, atualmente composta de oito Fundações: Abadias de Salvador, Rio de Janeiro, Olinda, São Paulo, Ponta Grossa, Mosteiros de Garanhuns, Brasília e Pouso Alegre. Há ainda Mosteiros ligados a seis outras Congregações vinculadas à Confederação Beneditina.
         Daí, constata-se que há muitos ramos beneditinos espalhados no mundo inteiro e destes, alguns estão congregados numa Confederação. No entanto, pode-se inferir que a Confederação não esgota a variedade da família beneditina. Conclui-se também que a mesma não exerce jurisdição canônica sobre todos os religiosos que vivem segundo a Regra de S. Bento, mas sobre aqueles que estão confederados. Em outros termos, apesar de ter autonomia e jurisdição sobre muitos Mosteiros e casas, a Confederação não se arroga a exclusividade do carisma beneditino. Se assim o fosse, instituições seculares estariam impedidas de se declararem beneditinas ou inspiradas na espiritualidade de S. Bento, como é o caso dos cistercienses, trapistas,  cartuxos etc.
     2.     Do Comunicado da Congregação Brasileira
                   A Congregação Beneditina Brasileira expressa-se oficialmente em seu nome, como um dos membros ligados à Confederação, não em nome desta e de  todos os beneditinos.
    É pertinente o zelo dos signatários desse Comunicado, expressando-se diante de abusos que confundem o Povo de Deus com terminologia e indumentária que dão margem à ambigüidade. (...) Mas ele tem limitações, previstas na legislação canônica e no foro civil.
         3.      Da Competência Diocesana
         Partindo do pressuposto histórico, jurídico e canônico de que a espiritualidade beneditina não é exclusividade de nenhuma instituição, pode a autoridade diocesana, observadas as prescrições do Código de Direito Canônico (respeitado o disposto nos cânones 312 parágrafo 1º., Inciso 3º., 579 e 594), fundar conventos, mosteiros etc. dentro de seu Bispado e colocá-los debaixo de uma Regra, no caso a de S. Bento, que é patrimônio de toda a Igreja.
         (...) Se fiéis vivem em um Mosteiro ou casa religiosa a espiritualidade de determinado santo da Igreja Católica e se foram legitimamente constituídos e são supervisionados pela autoridade diocesana, não incorrem em nenhum delito canônico.
         4.    Da extensão do Comunicado
                   (...) O Documento firmado pelos Abades e Priores deve ser interpretado como balizamento. Adverte sobre erros, abusos e má fé e aponta critérios para se identificar quem é ou não é monge beneditino pertencente à Congregação Beneditina Brasileira. Assim, para que se saiba se esta ou aquela casa é ou não beneditina dessa Congregação, deverá exibir a documentação prevista nos Direitos Canônico e Civil. No entanto, na verdadeira acepção canônica e jurídica, falece competência àquela Congregação para dizer se outras casas têm inspiração no carisma de S. Bento.  Cabe aos signatários declarar se há vinculação de religiosos a essa Congregação”.
                  Que a Santíssima Trindade, a Virgem Maria e o nosso Pai S. Bento acompanhem sempre, com carinho e zelo, todos os nossos passos e os de vocês também.
         Grande  e afetuoso abraço:
Ir. Manoel, OSB